segunda-feira, 4 de agosto de 2008

A pilastra da existência

A vida, enquanto projeção sob a ótica humana, é sustentada pela fé.
Aqui, talvez fosse prudente dar um crédito à ciência e à razão, principalmente se a elas se fizer apressado apelo, sem dar tempo à profunda reflexão. Postas em prática desta maneira, certamente se chegará à conclusão de que o argumento acima é frágil, e não resiste à menor crítica.
Mesmo ciente dessa possível fragilidade, eu mantenho o argumento, e o reformo, extraindo dele qualquer fragmento de modalização. Portanto, eu reafirmo: a Vida é sustentada pela Fé, muito embora os meus sentidos contrariem isso a todo instante, e a todo instante eu precise dar créditos pela Fé.
Se não, vejamos: tudo o que meus olhos vêem é apenas uma projeção de quase infinitas coisas que não vejo. E mesmo que eu use de recursos óticos os mais desenvolvidos pelo atual estágio dessa tecnologia, estarei vendo parcialmente, pois existirão coisas, muitas coisas, que estarão muito além do que a tecnologia atual me permite ver.
Ouço, cheiro, sinto, degusto coisas, e muitas, mas muitas coisas mesmo escaparão à sensibilidade dos meus sentidos que me permitem estar em presença das coisas.
A todo instante sou convocado a dar crédito, pela fé, aos sentidos das palavras que a mim chegam trazidas pela vibração do ar. Eu não vejo isso, mas, é assim que funciona, e tenho que pôr fé nisso. A todo instante eu preciso pôr fé nas coisas.
Afinal, quem é o José que fala comigo? É mesmo o José, ou o José já terá outro nome ou atenderá, como “cítrico”, a outro propósito no qual se põe fé? Será mesmo José? Ou será Josefina?
Se o José não tem Certidão de Nascimento que ateste que existe, mesmo que eu veja esse José por inteiro à minha frente, quem me garante que o José existe? Sem documento não existe!
O Doutor que me assiste estudou o mesmo que o outro Doutor, e até pode saber mais do que esse outro Doutor, mas se alguém não disse umas palavras, que são confirmadas por um tal de Diploma, então o Doutor que me assiste não é Doutor. Ah!, sim, existe, mas não é doutor: pode ir pra cadeia porque é charlatão. E não adianta eu botar fé no “doutor” que me assiste.
O pãozinho francês meu de cada dia custa R$ 4,98 o quilo numa padaria. Eu tenho que acreditar nisso. E tenho que acreditar que naquela outra padaria ele custa R$ 4,79. Não sei por que, mas tenho que acreditar nisso.
Neste último domingo, fizeram-me acreditar que o Felipe Massa seria o vencedor do Grande Prêmio da Hungria de Fórmula Um, e seria o primeiro colocado na classificação atual do campeonato. A três voltas do final da corrida, uma lufada de fumaça azul fez essa minha crença virar fumaça, e o Massa é o terceiro da lista geral.
A todo instante eu preciso acreditar em algo, assim como acreditei que escreveria algo muito diferente do que escrevi, quando comecei a escrever aqui.
É. A vida é sustentada, mesmo, pela fé.