quarta-feira, 21 de abril de 2010

Hiato explicado

Você que tem acompanhado a estória com Elza, provavelmente tenha se perguntado o porquê do hiato de tempo desde a última postagem no final de dezembro. Talvez eu deva uma explicação.
Deparei-me com uma inesperada bifurcação no destino da narrativa. Isso pode ser comum a quem se proponha escrever algo. Em cenas do cinema e da TV, naquelas que tratam da lida de um escritor das antigas, não raro o mostram rodeado de bolotas de papel amassado, idéias e parágrafos atirados ao lixo. No meu caso, embora não me julgue um escritor, confesso, há não sei quantos bites deletados, uma vez que seria impróprio dizê-los amassados.
Um dos lados da bifurcação é mortal para a outra. Tome como exemplo um caminho: o da direita, ou o da esquerda, e tudo o que houver ao longo do curso escolhido, jamais será igual ao outro preterido. Com essa história não seria diferente. Todavia, eu que agora conheço os dois percursos da narrativa, – o primeiro que sempre ocupou meu pensamento, e o outro que se fez de intruso – sei que um seria muito diferente do outro, porém, com quase idênticas parcelas de dor e infortúnio, pois, os labirintos, além de poderem esconder mistérios, podem ser reduto de minotauros. Ops! Então, jamais poderei dizer algo parecido com: “baseado em fatos reais”.
Os labirintos de Elza é uma história fictícia antiga que insistia ocupar algumas parcelas do meu pensamento. Houve algumas folhas de papel com rabiscos narrativos que, por ultrapassadas, foram parar no lixo.
Muito bem. Agora está definitivamente claro. Fico com o percurso narrativo antigo. O intruso... Dei-lhe um bom peteleco e o destinei ao esquecimento. Mas, seria, também, uma boa alternativa.
A Parte 16 bem que poderia ter sido publicada. De qualquer modo ela seria aquele trecho do caminho que antecede o acontecimento da bifurcação. É imutável, e aconteceria da mesma forma, seja qual fosse a minha escolha. Sei manter alguns equilíbrios, mesmo que sejam provisórios. Se não publiquei, foi por mera opção.
Nesse tempo – desde a última publicação – não fiquei bloguemente ocioso. Tenho publicado poesias inéditas – por serem minhas e não publicadas – no meu outro blog, o Singularidades. E criei outro blog que ainda está vazio. Este, pretendo, será apenas imagético. Isto é: conterá coisas interessantes, ou não, captadas por meu Olhar Digital através das lentes da minha FZ35. Isso acontecerá com o tempo. Por enquanto, eu e ela estamos usando da parceria para aprendermos juntos a registrar coisas e momentos do mundo visível pela tecnologia digital.
Por favor. Se você achar interessante, acompanhe a estória de Elza. Prometo, plagiando a história dos mitos, manter o fio da narrativa para que Os labirintos de Elza não se percam.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Os labirintos de Elza

Parte XIV


Seria tanto o desejo de nos encontrarmos, que nos antecipamos em mais de meia hora para o encontro. Eu também já havia me antecipado na compra dos ingressos. Assim, tivemos mais tempo para estarmos a sós, longe da aglomeração de pessoas. Andávamos abraçados, olhando para tudo e para nada, apenas gozando as nossas presenças mútuas, felizes; e se Elza decidisse que não iríamos ao cinema, para mim estaria ótimo, pois o meu maior desejo era apenas gozar a proximidade com o seu corpo deliciosamente macio, e estar na atmosfera do seu perfume quase natural. No entanto, fomos ao cinema.
Eu já havia estado com outras garotas em sessões de cinema, porém, nenhum outro encontro desses poderia ser comparado àquele com Elza. Creio mesmo que, pela primeira vez, ela tenha de fato se entregado às circunstâncias de um encontro; e sem ser pueril, ela transbordava alegria e felicidade gozando a simplicidade de devorar com calma e prazer o seu pacote de pipocas; e olhava a tudo com visível interesse. Tanto, que cheguei a suspeitar ser essa a primeira que Elza entrava em um cinema. Tempos depois eu saberia que não estava de todo errado.
O filme não era uma das grandiosas produções de Hollywood, e nem sei mesmo se seria uma produção de Hollywood ou do cinema europeu. Era um filme em preto e branco, e somente lembro-me do seu título, Fräulein, porque o associei à primeira e quase a única vez que estive com Elza em um cinema. O tempo do filme se passava em um momento do quase final da Segunda Guerra Mundial, e contava a história de uma garota alemã e um soldado americano, os quais protagonizaram uma intensa e verdadeira história de amor, tornada impossível de se concretizar pelo drama da guerra e pela intolerância de ambos os lados beligerantes, principalmente dos alemães com a intransigente Gestapo, a polícia secreta alemã do período da guerra, ainda mais porque a garota fazia parte das pessoas que se opunham aos motivos e rumos daquele conflito mundial. Eu diria ser uma história comovente, principalmente para apaixonados como estávamos, eu e Elza.
Certamente eu me comovi com alguns momentos do filme; Elza, porém, foi às lagrimas na maioria do filme, uma vez que era visível o crescente envolvimento amoroso do casal protagonista, e as dificuldades se somavam para tornar impossível sua vida a dois e em um mundo de Paz. Em alguns momentos de elevada tensão, Elza se agasalhava ao meu abraço, e recolhia seu rosto contra meu ombro, e se recusava a olhar. Houve um momento em cheguei a sugerir se ela não preferia sair, mas ela disse-me que precisava resistir a isso, e muito mais tarde eu perceberia que Elza, naquela sessão de cinema, também lutou contra as suas tensões interiores.
Terminado o filme, saímos para a noite fresca que convidava para passeios e namoro. Elza, porém, ainda estava envolta em visível tensão à qual procurava disfarçar. E sem esperar estarmos mais a sós, ela envolveu-me em um abraço, nos beijamos, e ela entrou no primeiro taxi que conseguiu parar, e se foi.
Não seria preciso dizer que aquela noite também foi de conjecturas sobre os mistérios que rondavam a vida de Elza, e nas reiteradas vezes em que nossos encontros se interrompiam da mesma forma: Elza tomando um taxi para o desconhecido.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Os labirintos de Elza

Parte XIII

A manhã seguinte foi luminosa, agradável em todos os sentidos. Apesar de lembrar-me do comportamento estranho de Elza diante da visão do quadro sombrio na sala de exposição, e do que ela me dissera ao final do jantar, meu pensamento ainda estava em cada um dos outros momentos passados juntos. Tivesse eu acesso à vida privada de Elza, eu teria deixado tudo para estar com ela por toda aquela manhã. No entanto, como não o tinha, passei boa parte da manhã em companhia dos amigos, algo esperançoso de que Elza telefonaria e passaríamos a tarde do domingo juntos. Não houve um telefonema de Elza naquele domingo, e também nos dias seguintes, o que me conduzia a ter certeza de que assim seria a minha vida ao lado de Elza, pelo menos até que algo novo viesse a alterar essa inquietante rotina.

Porque assim eu ponderava, e porque os amigos e a família alimentavam discussões a respeito do meu relacionamento com Elza, incógnita para todos, crescia em mim o desejo ardente de, finalmente, ter a namorada dos sonhos, ao lado da qual eu pudesse viver todos os momentos possíveis de acontecer em um namoro sério. E eu, temeroso por afastar Elza, nada dizia a ela a respeito desse meu desejo; de eu poder buscá-la e levá-la à sua casa; conhecer-lhe a família; tê-la em minha casa entre os meus familiares e no convívio com os amigos. Enfim, ter com Elza um namoro para valer.

Talvez tenham decorridos dois meses desde esse nosso encontro o qual eu considerava de fato um encontro. Nesse tempo houve, sim, telefonemas e cartas de Elza. Tivemos encontros felizes, e raros momentos obscuros aos quais eu atribuía fatos e circunstâncias da vida de Elza que deveriam ficar desconhecidos por mim, convencido que eu estava de que tudo viria a seu tempo, e o que tivesse que ser e acontecer como consequência do nosso relacionamento, aconteceria. Talvez porque eu confiasse demais na possibilidade de um futuro com Elza, ao final desse tempo aconteceu algo que, para mim pelo menos, foi um divisor que selou definitivamente o rumo das nossas vidas. Aconteceu o primeiro beijo: intenso, denso, recíproco e perdidamente apaixonado beijo; uma entrega terminal de almas; ao final da qual nos olhamos extasiados e confiantes de que estávamos protagonizando um encontro de verdadeiros amantes. Todavia, como em tudo com Elza ocorriam os senões, depois de nos olharmos apaixonadamente, e novamente nos beijarmos, percebi como que uma sombra em seu olhar, a qual ela logo procurou dissipar. Para mim, ficava claro que Elza dissimulava algo.

No entanto, havíamos tido um encontro como tantos outros, ao final do qual Elza tomaria um taxi e mergulharia no seu mundo o qual eu não ousava desvendar. Se iríamos, e quando iríamos, nos encontrar novamente, ficaria à mercê dos mandos da vida e da iniciativa de Elza. Todavia, o final desse encontro seria diferente. Despedimo-nos; o taxi no qual Elza embarcara já estava de partida, quando ela o fez parar. Sem sair do taxi, olhou-me como somente ela sabia me olhar, e disse que adoraria ser convidada para o cinema na quarta-feira, que seria dali a três dias; e sorriu, dizendo o lugar e a hora em que nos encontraríamos, e partiu.