domingo, 31 de maio de 2009

Lençóis

Talvez!
Talvez pudéssemos considerar a vida como uma viagem por entre varais e seus lençóis. Os varais e os lençóis como sendo os instantes todos, sem medida, ou, se queremos, medidos a partir do tempo que temos: todos, e cada um de nós, em suas particulares circunstancialidades; o que nos torna, enquanto indivíduos, constantes atores inaugurais.
Deslizam os lençóis ao nosso encontro? ou caminhamos, em passos ondulantes, por entre os lençóis que se nos apresentam? Depende, talvez: o quanto atores somos?
Se os lençóis vêm ao nosso encontro, dentre eles podemos fazer a escolha sob qual passar? E se vamos ao encontro dos lençóis, também assim, todos ou algum em particular é da nossa escolha?
Depende, talvez: o quanto atores somos.
Os lençóis-instantes da nossa existência: qual, ou quais serão as suas cores? e suas estampas? as tramas da sua tessitura?
Talvez pudéssemos pensar cada um dos nossos lençóis como que telas de cinema jamais apagadas e brancas. Se assim os pensarmos: o que suas luzes refletidas nos revelam? Se assim pensarmos, nas telas do cinema: nos nossos lençóis-instantes todos, que atores revelam?
Os lençóis: seu roçar por nossas existências causam, ou deveriam causar, arrepios de gozos ou de medo. Gozos nas colheitas fugazes, talvez, de toda a felicidade que as telas-lençóis nos trazem; ou medo nas telas-lençóis-horrores nas quais roçamos, ou nos envolvemos.
E os lençóis: os de linho, de algodão, de fibras sintéticas, que acolhem nossos sonos, os nossos sonhos, os arrepios dos gozos que temos, a rolagem das nossas insônias; que telas-lençóis serão esses nossos lençóis sobre os quais nos projetam uns tantos instantes das nossas existências?
Lençóis! Talvez sejamos isso: apenas projeções. Enquanto envoltos nos lençóis da cama, talvez perdidos sejamos em algo que fique entre a vida e os sonhos trazidos pelo sono; ou, pesadelos, talvez. E enquanto envoltos nos lençóis-instantes do que supomos ser existência consciente, também aqui talvez perdidos sejamos em algo que fique entre a vida que temos ou poderíamos ter e que é a vida dos nossos sonhos.
E pensar que nesse existir e ser por entre lençóis-panos e lençóis-instantes, tanto pesadelo há.

domingo, 17 de maio de 2009

Aflições de um pai.

Olá, filhão.

Sabe de uma coisa? Essa HP C4480 é multifuncional mesmo, e das boas.
Sabe até o que ela está fazendo? Enchendo meu saco. Deixando-me com cara de trouxa. Esquentando minha cabeça. E fazendo outro montão de coisas, das quais me recuso falar aqui. É boa, mesmo.
Seguinte: já mudei de terminais USB: são 8? Pluguei, ou, usbeizei nos 8.
Num deles, aqueles dois de cima que parecem ser ligados diretos na placa filha da mãe, apareceu uma mensagem, sei lá o que, cliquei, pensei ter achado respostas, mas, apareceu somente uma relação de portas USB possíveis, sem indicar quais são das 8 que temos. (Esse equipamento não sabe ler pensamentos.) Levei o cabo para aquelas quatro de baixo, tentei imprimir, e o documento ficou lá "Imprimindo" E NÃO IMPRIMIU PORRA NENHUMA. Acho que essa HP é analfabeta e não sabe do que estamos falando.

Tem outra coisa: Lá em Configurações > Impressora > Propriedades > Portas, aparece o seguinte:
LPT1 - Porta de Impressora - HP Photosmart C4400 series (é o que está marcado) Depois vem (para economizar linha botei os dois seguintes na mesma linha, mas, lá na tal "janela" aparece um embaixo do outro) disso você sabe.
LPT 2 e 3 - Porta de Impressora (e só)
COM 1 ao 4 - Porta Serial ( e só)
File: Imprimir em arquivo
DOT4_001: HP Photosmart C4400 series (não está marcado) e
Sen: Local Port - Send To OneNote2007

Falamos de USB, e não aparece isso na lista "Portas". Será que tem alguma coisa a ver? Ou será que atrás de LPT, COM, DOT, e sei lá mais o que, está escondida alguma USB e a gente não sabe que lá está?

Outra coisa: lá em "Configurações do dispositivo" aparece: - "HP Photosmart C4400 series", e uma linha de hierarquia que leva a "opções instaláveis". Vou saber que que opção devo instalar se não me dizem pobre leigo que sou, se, e qual opção instalar?

E mais outra coisa: no cantinho de baixo, à direita, ao lado do relógio, aparecem, ao lado do ícone de volume e do antivírus, por enquanto, mais dois: 1 que diz:HP Digital Imaging Monitor, que acho que diz que tem Scanner e Fotocopiadora na parada, e aquele outro idiota que diz: Remover Hardware com segurança.
E eu, pobre coitado, que só quero que esse "hardware" funcione, e imprimir uma coisinhas com alguma insegurança, mas, imprimir.

Para quando você tiver um tempinho... e depois me responda.
Enquanto isso, continuo cá a pensar um montão de coisas desrespeitosas a respeito destes hardwares e softwares, tendo um bocadinho de certeza de que, tecnológicos e lógicos que são, ainda, não podem pensar nada a respeito de mim. Assim, por enquanto, mas com pontinha de frustração, vou pensando que estou um tantinho vingado por antecipação.

Fique bem, filhão. Abração. Até.

(e-mail para meu filho)

sábado, 9 de maio de 2009

Coisas do reino

Era uma vez um reino, pequeno pelos padrões dos grandes reinos ou impérios. Seu povo tinha tudo para ser um povo feliz, mas, por ter vindo de terras distantes, era um povo sem identidade; perdia-se em semblantes carrancudos, e o que mais queria era sugar as tetas do reino. Os cofres reais estavam abarrotados, pensavam, e diziam.
Seu rei, coroado não fazia muito tempo, vivia angustiado. Tinha muito o que fazer, porque assim o povo o exigia; mas, tudo o que havia nos cofres já estava tudo comprometido, e o rei não podia fazer grandes obras. Seus ministros, talvez por serem novatos na função de ministros, talvez por pensarem ser maiores que o rei, gastavam demais.
De tudo, porém, o que mais estava angustiando o rei, era não poder colocar entre os ministros, nem mesmo em função subalterna a esses, um dos homens do povo ao qual pensava dever muito. Afinal, se coroado era como rei, devia muito a esse homem do povo; assim pensava o rei, que queria recompensar esse homem ofertando-lhe uma das tetas do reino. A maioria dos ministros e, principalmente o Primeiro Ministro - que fazia alguma oposição ao rei -, desafetos que eram desse homem do povo, não concordavam com o rei, e o impediam de ter esse homem na corte.
Para piorar tudo, havia o Primeiro Ministro. Este teria pretendido ser o rei; não o foi por causa das causas do reino que o tornaram Primeiro Ministro.
Este, em suas andanças pelo reino, por não ter carruagem custeada pelo estado, usava a mesma carruagem do rei. Nessas ocasiões, para que o povo não o honrassem mais que ao rei, ia adiante da carruagem o arauto do reino, a dizer: - Não é o Rei! Não é o Rei! E o povo sabia que era o Primeiro Ministro que passava; isso o desgostava, e queria ter do reino a sua própria carruagem. O rei não aprovava, e dizia que os cofres do reino não comportavam pagar por outra carruagem.
Essas não eram as causas maiores do reino, mas eram as causas que mais angustiavam o rei e o seu Primeiro Ministro.
Porém, como nas causas de Estado tudo pode ser arranjado, também as causas da angústia do rei e do Primeiro Ministro foram arranjadas, de tal forma que houve satisfação da parte do rei e de seu principal ministro: um dia, sentaram um diante do outro com a intenção de resolverem a suas angústias, e conversaram.
Resultou dessa conversa que o rei pôde colocar o seu protegido homem do povo sob as tetas do Estado, mesmo que para isso teve que inventar uma nova função pública no reino, e dar a essa nova função um nome pomposo, e o Primeiro Ministro, buscando num dos cantos dos cofres do reino todo o dinheiro que precisasse para comprar a carruagem do Estado que também fosse a carruagem dos seus sonhos.
Então, o povo desse reino continuou a ser um povo sem identidade, e continuou a ser um povo carrancudo que continuou a acreditar que os cofres do reino estavam abarrotados de dinheiro; e a acreditar que os cofres do reino fossem gordas e inesgotáveis tetas. O rei, agora não mais tanto angustiado, tinha na corte do palácio o homem do povo do qual pensava dever muitos favores; e o Primeiro Ministro já não precisava mais dos serviços extraordinários do arauto do reino que lhe fosse adiante anunciando que não era o rei quem passava diante do povo.
Este continuou a viver carrancudo; aqueles a não viverem tão angustiados para sempre, ou enquanto dure o reinado do rei e do seu Primeiro Ministro.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Páginas policiais

Serei eu um pervertido "inocente"?
Depois de ler isto aqui, e refletir, é muito provável que você "cole" na minha testa um rótulo de ingênuo ou sonhador; numa permissão ao clichê.
Explicado então vai: acredito no mundo perdido por Adão e Eva, mundo esse de sonho no qual o que realmente tenha valor é a vida; vida em toda a sua plenitude e que seja sinônimo verdadeiro e absoluto de Paz.
Feito este deslocado preâmbulo, vou ao assunto que quero abordar: páginas policiais.
No "meu jornal" elas não existem, embora para chegar às páginas que venham depois, no jornal que vejo todos os dias, meu olhar deslize muito rapidamente sobre elas a tempo de fotografar imagens e títulos dessas matérias.
Novamente eu explico, ou tento, e vou ser mais direto.
Um dia destes um rapaz estava tentando vender-me a assinatura de um jornal. Eu poderia apenas ter dito não, ou melhorado o argumento de que no meu local de trabalho disponho de um exemplar desse diário, e pronto.
Mas, não. Eu disse que estava crescentemente desgostoso com esse tal jornal, e que ao lê-lo não me detinha nas páginas policiais, mas que, mesmo de relance, eu havia notado uma desprezível mudança de paradigma: esse jornal passou a publicar escancaradamente fotografias de corpos humanos abatidos pela violência do dia-a-dia, descartados como se lixo fosse; e que essas páginas haviam se transformado em galeria sórdida de horrores, e desnecessárias no meu entendimento.
O rapaz olhou-me, tendo na face uma escancarada expressão de riso, da qual ainda estou a dever uma interpretação, e me disse:
- Elas fizeram crescer nosso faturamento.