quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

O tempo e a memória

- Meu Deus! Como ficamos velhos. – foi o que ela disse, tendo nos panos das faces expressões de assombro.
Por descuido, ou assomo e soma de circunstâncias, ela havia deixado passar muitos e muitos anos antes de voltar ao lugar onde vivera a infância e a adolescência. Jovem, fizera-se lançar ao mundo abraçada à causa profunda de uma alma nômade, e como os nômades, segundo os afectos do nomadismo, sempre fora de um lugar a outro, sem se fixar em lugar algum por muito tempo. Nesse ir adiante, entre inumeráveis conteúdos e expressões acumuladas com a existência, guardara na memória corpos e faces com os quais convivera até a adolescência, antes de lançar-se ao mundo.
Um dia, sem mais o que, vira crescer dentro de si inquietações trazidas por forte desejo de fazer o caminho de volta às suas origens. Permitiu a si mesma esse retorno, e o fez.
Chegada ao lugar onde nascera, e crescera até a juventude, viu que a paisagem do lugar pouco mudara. Os vinhedos, os extensos pomares e campos, praticamente eram os mesmos. O rio da sua terra natal seguia o mesmo curso de outrora, pelo leito cavado no vale entre as colinas que acolheram suas pegadas no passado. As casas do vilarejo e arredores, a maioria pintadas de branco imaculado, ainda eram as mesmas.
Não as pessoas. Estas envelheceram.

Um comentário:

Uma aprendiz disse...

Divino.

Esse texto me fez lembrar de mim. Escreverei algo, algum dia, sobre minha infância baseado nele.

Espero que quando isso acontecer você possa lê-lo.

bom dia!