sábado, 13 de junho de 2009

Os labirintos de Elza

Parte I

Odiei cada instante vivido com Elza. Não. Não que tivessem sido instantes ruins. Todos eles foram momentos bons, talvez os melhores da minha vida, e cada um deles foram promessas de anos possivelmente felizes. Elza foi a primeira mulher a dizer amar-me, e eu pude olhar nos seus olhos e dizer que a amava com toda a intensidade do meu ser. A primeira vez que a vi foi como silhueta de uma bela mulher refletida em um espelho de uma vitrine.

Por razões de trabalho, eu havia estado ausente da minha cidade por um longo período, e finalmente gozava um curto período de férias. Havia visitado alguns lugares que há muito desejava ver, e revia minha família e meus amigos.

Eu chegara no início da noite anterior, e combinara com alguns amigos de nos encontrarmos no final da tarde do dia seguinte. Eu estava ansioso por revê-los, e por isso me antecipara em muito para o encontro, e gastava o tempo fazendo algumas coisas que me davam prazer. Acabara de sair de uma livraria e estava satisfeito por ter encontrado um livro que há muito desejava ler. Isso eu faria mais tarde, pois, no momento, gozava a ansiedade por rever os amigos. Para passar o tempo, olhava umas vitrines, sem real interesse em coisa alguma. Foi em um desses momentos que vi Elza que passava por traz de mim, refletida em perfil em um espelho à minha frente. Talvez outra mulher não tivesse causado tamanho arrebatamento. Virei-me, e pude vê-la se afastando, em passadas decididas, como quem tem um destino certo aonde ir.

Passado o momentâneo arrebatamento, não resisti ao ímpeto de segui-la. E o fiz. Seguindo-a, para sempre eu registraria na memória figura tão bela de mulher, muito embora não tivesse vislumbrado o seu rosto. Seus cabelos, de castanho claro, eram levemente ondulados e trazidos aparados um pouco acima dos ombros. Vestia blusa branca, de meias mangas que permitiam ver-lhe os antebraços graciosamente pendentes ao longo do corpo, dando elegância ao seu caminhar. Uma lufada de vento permitiu-me perceber que trazia um lencinho azul envolto no pescoço. A saia, talvez um pouco démodé e trazida um pouco abaixo dos joelhos, era plissada e de cor cinza esmaecida, e permitia ver-lhe os contornos dos quadris graciosos que produziam suave e delicioso rebolado. Os sapatos, pretos, tinham saltos medianos, e em muito contribuíam para o seu andar cadenciado e elegante. A pele, pelo que eu vislumbrara dos antebraços e das pernas descobertos, era clara e rosada.

Durante o tempo que a segui, sem alcançá-la, Elza não desviara o rosto para lado algum. Seguia em frente como se não existissem as galerias de vitrines ao seu lado. Logo adiante ela dobrou uma esquina que a levaria à praça da igreja Matriz. Quando dobrei a esquina, Elza entrava na igreja.

Certamente eu a seguiria até ao interior da igreja, porém, nesse instante, ouvi o chamado por meu nome. Virei-me; eram dois dos meus amigos que por ali passavam indo ao local marcado para o encontro. Vi-me envolto em colossal dilema: seguiria adiante, ao encontro dessa mulher para, pelo menos, ver-lhe o rosto; ou faria exatamente o que me propusera fazer nesse fim de tarde: entregar-me à felicidade de rever meus bons amigos. Não precisei decidir, pois eles decidiram por mim. Os momentos seguintes, e os demais que se seguiram, felizes pelo reencontro de amigos, jamais apagariam da memória aquele corpo de mulher. Eu reconheceria Elza entre todas as mulheres do mundo.

3 comentários:

mundo azul disse...

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...algumas pessoas, realmente nos tocam dessa maneira...

Quando a sintonia é assim tão forte, um novo encontro acontecerá!

Gostei da sua história...


Beijos de luz e o meu agradecimento pela gentil visita...

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Ju disse...

e como descobriu o nome dela?
:D
bjs!

Deusa Odoyá disse...

Olá meu nvo amigo.
Uma bela história de amor.
Adorei...
Que Deus possa te ajudar nessa felicidade .
Uma semana de muita paz e amor.
beijinhos doces de sua nova amiga.
Regina Coeli.