domingo, 20 de dezembro de 2009

Os labirintos de Elza

Parte XIV


Seria tanto o desejo de nos encontrarmos, que nos antecipamos em mais de meia hora para o encontro. Eu também já havia me antecipado na compra dos ingressos. Assim, tivemos mais tempo para estarmos a sós, longe da aglomeração de pessoas. Andávamos abraçados, olhando para tudo e para nada, apenas gozando as nossas presenças mútuas, felizes; e se Elza decidisse que não iríamos ao cinema, para mim estaria ótimo, pois o meu maior desejo era apenas gozar a proximidade com o seu corpo deliciosamente macio, e estar na atmosfera do seu perfume quase natural. No entanto, fomos ao cinema.
Eu já havia estado com outras garotas em sessões de cinema, porém, nenhum outro encontro desses poderia ser comparado àquele com Elza. Creio mesmo que, pela primeira vez, ela tenha de fato se entregado às circunstâncias de um encontro; e sem ser pueril, ela transbordava alegria e felicidade gozando a simplicidade de devorar com calma e prazer o seu pacote de pipocas; e olhava a tudo com visível interesse. Tanto, que cheguei a suspeitar ser essa a primeira que Elza entrava em um cinema. Tempos depois eu saberia que não estava de todo errado.
O filme não era uma das grandiosas produções de Hollywood, e nem sei mesmo se seria uma produção de Hollywood ou do cinema europeu. Era um filme em preto e branco, e somente lembro-me do seu título, Fräulein, porque o associei à primeira e quase a única vez que estive com Elza em um cinema. O tempo do filme se passava em um momento do quase final da Segunda Guerra Mundial, e contava a história de uma garota alemã e um soldado americano, os quais protagonizaram uma intensa e verdadeira história de amor, tornada impossível de se concretizar pelo drama da guerra e pela intolerância de ambos os lados beligerantes, principalmente dos alemães com a intransigente Gestapo, a polícia secreta alemã do período da guerra, ainda mais porque a garota fazia parte das pessoas que se opunham aos motivos e rumos daquele conflito mundial. Eu diria ser uma história comovente, principalmente para apaixonados como estávamos, eu e Elza.
Certamente eu me comovi com alguns momentos do filme; Elza, porém, foi às lagrimas na maioria do filme, uma vez que era visível o crescente envolvimento amoroso do casal protagonista, e as dificuldades se somavam para tornar impossível sua vida a dois e em um mundo de Paz. Em alguns momentos de elevada tensão, Elza se agasalhava ao meu abraço, e recolhia seu rosto contra meu ombro, e se recusava a olhar. Houve um momento em cheguei a sugerir se ela não preferia sair, mas ela disse-me que precisava resistir a isso, e muito mais tarde eu perceberia que Elza, naquela sessão de cinema, também lutou contra as suas tensões interiores.
Terminado o filme, saímos para a noite fresca que convidava para passeios e namoro. Elza, porém, ainda estava envolta em visível tensão à qual procurava disfarçar. E sem esperar estarmos mais a sós, ela envolveu-me em um abraço, nos beijamos, e ela entrou no primeiro taxi que conseguiu parar, e se foi.
Não seria preciso dizer que aquela noite também foi de conjecturas sobre os mistérios que rondavam a vida de Elza, e nas reiteradas vezes em que nossos encontros se interrompiam da mesma forma: Elza tomando um taxi para o desconhecido.

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