quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Os labirintos de Elza

Parte XIII

A manhã seguinte foi luminosa, agradável em todos os sentidos. Apesar de lembrar-me do comportamento estranho de Elza diante da visão do quadro sombrio na sala de exposição, e do que ela me dissera ao final do jantar, meu pensamento ainda estava em cada um dos outros momentos passados juntos. Tivesse eu acesso à vida privada de Elza, eu teria deixado tudo para estar com ela por toda aquela manhã. No entanto, como não o tinha, passei boa parte da manhã em companhia dos amigos, algo esperançoso de que Elza telefonaria e passaríamos a tarde do domingo juntos. Não houve um telefonema de Elza naquele domingo, e também nos dias seguintes, o que me conduzia a ter certeza de que assim seria a minha vida ao lado de Elza, pelo menos até que algo novo viesse a alterar essa inquietante rotina.

Porque assim eu ponderava, e porque os amigos e a família alimentavam discussões a respeito do meu relacionamento com Elza, incógnita para todos, crescia em mim o desejo ardente de, finalmente, ter a namorada dos sonhos, ao lado da qual eu pudesse viver todos os momentos possíveis de acontecer em um namoro sério. E eu, temeroso por afastar Elza, nada dizia a ela a respeito desse meu desejo; de eu poder buscá-la e levá-la à sua casa; conhecer-lhe a família; tê-la em minha casa entre os meus familiares e no convívio com os amigos. Enfim, ter com Elza um namoro para valer.

Talvez tenham decorridos dois meses desde esse nosso encontro o qual eu considerava de fato um encontro. Nesse tempo houve, sim, telefonemas e cartas de Elza. Tivemos encontros felizes, e raros momentos obscuros aos quais eu atribuía fatos e circunstâncias da vida de Elza que deveriam ficar desconhecidos por mim, convencido que eu estava de que tudo viria a seu tempo, e o que tivesse que ser e acontecer como consequência do nosso relacionamento, aconteceria. Talvez porque eu confiasse demais na possibilidade de um futuro com Elza, ao final desse tempo aconteceu algo que, para mim pelo menos, foi um divisor que selou definitivamente o rumo das nossas vidas. Aconteceu o primeiro beijo: intenso, denso, recíproco e perdidamente apaixonado beijo; uma entrega terminal de almas; ao final da qual nos olhamos extasiados e confiantes de que estávamos protagonizando um encontro de verdadeiros amantes. Todavia, como em tudo com Elza ocorriam os senões, depois de nos olharmos apaixonadamente, e novamente nos beijarmos, percebi como que uma sombra em seu olhar, a qual ela logo procurou dissipar. Para mim, ficava claro que Elza dissimulava algo.

No entanto, havíamos tido um encontro como tantos outros, ao final do qual Elza tomaria um taxi e mergulharia no seu mundo o qual eu não ousava desvendar. Se iríamos, e quando iríamos, nos encontrar novamente, ficaria à mercê dos mandos da vida e da iniciativa de Elza. Todavia, o final desse encontro seria diferente. Despedimo-nos; o taxi no qual Elza embarcara já estava de partida, quando ela o fez parar. Sem sair do taxi, olhou-me como somente ela sabia me olhar, e disse que adoraria ser convidada para o cinema na quarta-feira, que seria dali a três dias; e sorriu, dizendo o lugar e a hora em que nos encontraríamos, e partiu.

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