sábado, 18 de julho de 2009

Os labirintos de Elza

Parte V

Nesse dia, houve angustiantes horas de espera por um novo telefonema de Elza, e eu não o queria perder por nada deste mundo. Porém, as horas todas, transcorridas como se fossem a própria eternidade, transformaram-se em interminável final de tarde, e o telefone insistia em anunciar toques que pareciam vir de todo o mundo, menos de quem tanto eu desejava.
No cair da noite, resisti ao assédio dos amigos para o encontro habitual após o trabalho. Em razão deste, o dia não fora nada tedioso, exatamente como eu gostava que fossem os meus dias. Porém, por uma única outra razão, eu trazia nas carnes e na alma o desejo por um longo banho e o recolhimento: e como lamentei, outra vez, não ter insistido para ter um número de telefone através do qual pudesse falar com essa mulher que dominava inteira o meu pensamento. Chegando em casa, perguntei de imediato se alguém com o nome de Elza teria ligado para mim. Nada.
O banho teria feito exatamente o que dele eu havia esperado. No entanto, longo que foi, muito acima do habitual, não foi suficiente para lavar do pensamento tudo o mais que eu retivera na memória relacionado a Elza. Antes, a água tépida, como eu gostava às vezes que fosse, parecia cozinhar as minhas entranhas e, a cada lembrança de um olhar, de um breve sorriso, de cada uma das palavras ditas com a voz envolvente de Elza, faziam crescer em cada célula do meu corpo a quase irresistível ardência que vinha desse amor paixão que eu sentia.
Esse banho precisou chegar ao seu fim.
Depois de vestir-me, e falar com os de casa; e de não poder dizer exatamente quem era Elza de quem esperava um telefonema, servi-me de um aperitivo, e comecei a folhear de forma inconsequente umas revistas, o que me fez consumir toda a bebida e ficar pensativo, sustentando o copo vazio na mão. Nesse tempo o telefone havia tocado duas vezes: uma de um amigo que me convidava a ir a um encontro no qual teria chance de conhecer novas pessoas, convite esse que, contrariamente ao habitual, recusei; e outra para alguém da casa.
Chamado para o jantar já posto, eu estava prestes a sentar-me à mesa, quando o telefone tocou. Eu não saberia dizer nem como, nem porque, mas, tive a certeza de que finalmente eu falaria novamente com Elza. A certeza veio quando alguém atendeu ao telefone, e anunciou: é Elza!
O telefonema de Elza foi o meu jantar nesse dia.

Um comentário:

Bianca Feijó disse...

Queridíssimo!!!!!

Que texto lindo, digno de um belo livro, acho que merece a parte II, se a Elza permitir, é claro...rs.

Adorei sua casa nova, ficou muito bom seu banner com sua foto, gostei MUITO!!!!

B.E.I.J.O.S