quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Os labirintos de Elza

Parte VIII


Uma única folha. Assim foi a primeira carta de Elza com a qual construía, finalmente, uma ponte que tornava possível haver duas vias entre nós. Escrita com caligrafia esmerada, elegante, Elza ateve-se tão somente em construir breves argumentos para tentar justificar porque assim procedia. De pronto notei que, quando se tornava premente seu pensamento ir um pouco além, abruptamente ela interrompia suas frases então inacabadas interpondo reticências que mais mistérios traziam para a sua vida. Eu me indagava: quem seria essa mulher à qual eu estava disposto a amar por toda a minha vida?
Lendo essa primeira carta de Elza, e refletindo sobre a sua estória até então vivenciada de cujos fragmentos eu sabia, cresceu em mim a sensação de que a vida de Elza era como que mergulhada em espessas e impenetráveis brumas. Sua vida passada, eu intuía, dificilmente eu desvendaria, pois que parecia mergulhada em inexploráveis mistérios. Algo em relação ao futuro em comum parecia-me impossível de acontecer, muito embora, mais forte que tudo em mim, o que eu de fato desejava era construir a mais intensa das histórias de amor com a qual pudesse sonhar e almejar viver ao lado de Elza.
Naquela noite, depois de ler e reler a carta breve de Elza, procurando identificar e reter na memória os mais tênues dos signos que ali pudessem ser percebidos, escrevi-lhe uma carta densa na qual abria meu coração, como jamais fizera com mulher alguma. Nela eu pedia para nos encontrarmos, e a convidava para um jantar, talvez. Nessa mesma carta, por necessidade inadiável do trabalho, disse-lhe que no dia seguinte eu estaria viajando e que estaria ausente da cidade por dois, possivelmente por três dias.
Na minha ida para o aeroporto, depositei a carta em uma caixa coletora do correio, e todo o meu ser, todo o meu pensamento, passou a desejar com intenso ardor de que na volta eu encontraria uma carta como resposta de Elza, ou receberia um seu telefonema, dizendo que, finalmente, estaríamos juntos gozando as delícias de um primeiro encontro de fato, e um primeiro de muitos outros jantares a dois.
Nos dias que se seguiram, sonhei com isso.

Um comentário:

Sonia Schmorantz disse...

Boa semana!!
Aproveite cada momento
Seja ele de amar
De falar de cantar
De sonhar ou de agir
Medite sobre o que é
Um momento!!!

Obrigado pela visita
abraço